Ensina-nos, Senhor, a rezar este vazio.
O vazio trazido por um medo que não conhecíamos e que parece
agora um inquilino da nossa alma.
O vazio dos espaços confinados.
O vazio da vida, de repente, em suspenso.
O vazio das horas que quem está sozinho conta de forma
diferente.
O vazio das incertezas que se amontoam e das quais ainda não
falámos.
O vazio dos olhos dos que vemos sofrer e o vazio dos muitos
que sofrem sem que nós o vejamos.
O vazio dos cuidadores ao final de turnos extenuantes.
O vazio dos que tiveram de continuar expostos, dia a dia,
para que outros ficassem a salvo.
O vazio de tudo aquilo que, de um momento para o outro,
ficou adiado.
O vazio daquela mulher idosa que passa o dia com o rosto
encostado à janela.
O vazio das ruas donde nos chega um silêncio que não é um
silêncio, mas uma espécie de ação de despejo da vida quotidiana. O vazio dos
encontros e das conversas.
O vazio que os amigos pressentem.
O vazio das risadas.
O vazio de todos os abraços não dados.
O vazio da espontaneidade dos gestos.
O vazio da proximidade interditada.
O vazio deste verão que está a passar sem que notemos.
O vazio do sacerdote que celebra diariamente na igreja
vazia.
O vazio das nossas igrejas onde Tu, Senhor, continuas
presente, e dali nos ensinas a transformar os vazios.
Autor : Cardeal José
Tolentino de Mendonça 20.06.2020
Li em silêncio e em silêncio, orando, me deixei ficar.
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Um dia feliz
Abraço