Ensina-me a ouvir __ trinar os cantos
que soaram ditosos no passado:
essa harmonia que raiava quando
os gritos de crianças alcançavam
o céu que os acolhia __ deleitando-se.
Ensina-me a estender as mãos e ver
caírem nelas a brilharem estrelas
e espalhá-las depois pelos canteiros
do jardim tão florido e que no meio
tinha lagos, repuxos, cisnes tersos.
Ensina-me contando onde se cruzam
as ilusões __desilusões
vividas
com frágeis confianças: que procuro
lembrar e perceber no farto livro
que fui ‘screvendo ainda que confuso.
Mas não te vou pedir que me devolvas
os cantos, as estrelas, o jardim
com lagos __ cisnes __ delicadas
flores:
o que de mim agora se aproxima
é, no meio do livro, as secas folhas.
.
Autor : António Salvado
(Castelo Branco, n. 1936)
in “Repor a Luz”, Editora Fólio Exemplar, Lisboa, 2011
Imagem : Arno Rafael Minkkinen
António Salvado é um poeta de que gosto, com uma vasta obra mas pouco conhecido. É justo que o divulgue. Obrigado.
ResponderEliminarInfelizmente existe muita gente que não sabe ouvir
ResponderEliminarGostei muito da intensidade poética do poema.
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Que a vida seja um sorriso
Cumprimentos
Brancas nuvens negras
ResponderEliminarpois é, tem muita razão, e é pena que nao seja divulgado como ele merece.
enfim!
obrigada pela presença e pelo comentário válido e verdadeiro.
bfs
Rykardo
ResponderEliminarmuito obrigada pela sua presença sempre tão assidua e pelos seus comentários.
bfs