sábado, 21 de março de 2020

Perguntas


Tenho sempre, na algibeira da noite,
algumas vigorosas perguntas de reserva,
prontas a disparar em legítima defesa
contra o negrume 

Algumas são pequeninas, vulgares
aspectos de pormenor.
Outras, pelo contrário, são enormes,
desabridas como a boca dum forno —
do género porque é que deste quatro,
e não seis, ou oito, pernas à rã. 

Hoje ocorre-me fazer a menor de todas:
se foste tu que fabricaste o tempo
e a ele nos acorrentaste?
e com que barro? e com que raio
de segunda intenção? 

Se é que não foi apenas descuido.
Ou até casualmente, como acontece às vezes
ao cientista que faz experiências
e acaba por descobrir seja o que for. 

Autor : A.M. Pires Cabral

1 comentário:

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Saudações Poéticas e que a Poesia viva sempre entre nós.
Muito obrigada!