terça-feira, 15 de outubro de 2019

Pedras

Eu canto estas pedras de fio,
Este areal de aves esquecidas.
Passo por ti sem ver as rosas, a flor que pelos olho esvoaça.

Eu canto como se aqui fosse uma praça,
Uma praça coberta de cadáveres
E o teu rasgado pelo ventre
Fosse um cadáver mais por entre os dedos.

Por isso é que esta dor não pode ser poema.
Por isso é que não pode ser uma palavra.

Autor : Mário Contumélias
In Sou deste mar Lisboa, Litexa, 1983
Imagem: Jaroslaw Datta

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