madrugada, passos soltos de gente que saiu
com destino certo e sem destino aos tombos
no meu quarto cai o som depois
a luz. ninguém sabe o que vai
por esse mundo. que dia é hoje?
soa o sino sólido as horas. os pombos
alisam as penas, no meu quarto cai o pó.
um cano rebentou junto ao passeio.
um pombo morto foi na enxurrada
junto com as folhas dum jornal já lido.
impera o declive
um carro foi-se abaixo
portas duplas fecham
no ovo do sono a nossa gema.
sirenes e buzinas, ainda ninguém via satélite
sabe ao certo o que aconteceu, estragou-se o
alarme
da joalharia, os lençóis na corda
abanam os prédios, pombos debicam
o azul dos azulejos, assoma à janela
quem acordou. o alarme não pára o sangue
desavém-se. não veio via satélite a querida
imagem o vídeo
não gravou
e duma varanda um pingo cai
de um vaso salpicando o fato do bancário
Autor: Luiza Neto Jorge, in 'A Lume'
Imagem : paolo barzman
Olá:- Poema lindissimo. Imagem divina.
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POEMA ** Amar ao entardecer **
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