sábado, 3 de agosto de 2019

As palavras têm rosto: ou de silêncio ou de sangue


As palavras têm rosto: ou de silêncio ou de sangue. 
O cavalo que nos domina é uma sombra apenas. 
Sem sílabas de água, avança até ao outono. 
Uma árvore estende os ramos. As nuvens subsistem. 

O cavalo é uma hipótese, uma paixão constante 
Na rede das suas veias corre um sangue de tempo, 
uma árvore se desloca com a alegria das folhas. 
Árvore e cavalo transformam-se num só ente real.

Eu que acaricio a árvore sinto a força tenaz 
da testa do cavalo, a eternidade férrea, 
o ser em explosão e eu tão leve folha 

na sombra deste ser animal vegetal 
busco a razão perfeita, a humildade estática, 
a força vertical de ser quem sou e o ar.

Autor : Antonio Ramos Rosa
"Círculo Aberto ", Lisboa, Ed. Caminho
Imagem: Andre Kohn

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