sábado, 27 de fevereiro de 2016

O teu rosto

Jeremy Lipking
O teu rosto
é como a noite
que envolve
o cair do dia…
fecha todos os jardins
e abre a minha fantasia.

Autor : Vasco de Lima Couto

4 comentários:

  1. decifrar os sinais do rosto
    como mapa da vida

    beijo

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  2. talvez goste tanto como eu...

    apesar do autor dizer que, "a poesia era um jogo de conhecidas palavras",
    não era sentido.

    este poema é quase um biografia.


    RETRATO

    Fui só eu que estraguei as alvoradas
    - presas suaves nos plúmbeos céus!,
    e dei água aos ribeiros da minha alma
    e fiz preces de amor e sangue, a Deus...

    Fui só eu que, sabendo da tormenta
    que o vento da nortada me dizia,
    puz meus lábios no sonho incompleto
    e rasguei o meu corpo na poesia.

    Vieram dar-me abraços e contentes
    viram que me afundava sem remédio
    - nem um grito subia do horizonte
    há mil anos deitado sobre o tédio!

    Quando chamaram por mim do imenso rio
    que a noite veste para se entreter
    vi que os barcos andavam cheios de almas
    buscando sonhos para não sofrer.

    Cantavam doidas como a dor e a morte
    parando, a espaços, para ver montanhas
    e eram luzes mordidas pelas sombras,
    corajosas, infelizes - mas tamanhas!

    Eu fugi de as ouvir (que ardentes vozes...)
    de navegar nas mesmas ansiedades
    e fui sozinho semear as luas
    e a natureza inculta das idades.

    Parti, negando à vida o seu direito,
    recalcando os meus sonhos e os meus medos...

    sei agora que matei o meu destino
    e quebrei o futuro nos meus dedos.

    Vasco de Lima Couto,
    in: "Os Olhos e o Silêncio" - 1952

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Agradeço muito o feedback .
Mas, não comente se não leu, e por favor não deixe copy-paste.
Saudações Poéticas e que a Poesia viva sempre entre nós.
Muito obrigada!