quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

restauração




Risquei o último fósforo
e estou agora vazia,
não esperando sequer
o deserto. Posso de novo
sublinhar os livros
sem pensar noutros olhos,
numa vontade que não coincida;
como quem se despe
de portas abertas, luzes acesas,
buracos na roupa,
indiferente ao desejo
de vizinhos e espelhos.

Sou finalmente o único fantasma
da minha vida inteira.

Autor : Inês Dias
in “Um raio ardende e paredes frias”

4 comentários:

brancas nuvens negras disse...

Um poema que diz muito do que se sente, do que sentimos.

Cidália Ferreira disse...

Um poema lindíssimo!! :)
**
Se, o outro lado for a distância que nos separa
*
Beijo e um excelente dia.

" R y k @ r d o " disse...

Poeticamente fascinante de ler.
.
Abraço

Mário Margaride disse...

Muito bonito! Parabéns!
Ótima semana!
Beijinhos!