quinta-feira, 3 de setembro de 2020

podes levar os dias que trouxeste


os pássaros soterraram agosto

e sem lugar um homem cega pela janela

o mar que jura ter tocado com o sangue
podia ter sido o amor se não tivesse vindo


tão directamente da sede

um duplo rosto de enganos e os braços

que saíram desertos
o eco da morte reverbera na pele
com que vejo a tua ausência encher as ruas
um choro de papel cai pela terra
e nunca foi tão tarde ser depois

daqui onde o grito surdo incendeia


a refutação da madrugada

donde o crânio esmaga o coração

um homem corta pela janela
a própria certeza de ter sido

não   é tarde demais para uma manhã


que foi a enterrar em tantas noites

as escadas morreram de sede


a terra caiu em nunca

podes levar os dias que trouxeste

Autor : Pedro Sena-Lino
Imagem: Katerina Plotrikova

3 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

A imagem é soberba olhando ao conteúdo do poema. Belíssimos.
.
Cumprimentos
Abraço

brancas nuvens negras disse...

Poema triste e desesperado de quem vislumbra o fim do mundo, para si próprio.

LuísM Castanheira disse...

Uma janela aberta para o desespero.
Belo e triste.
Bj